Consignado CLT vale a pena? Saiba o que avaliar antes de pegar um empréstimo

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram uma grande procura pelo Crédito do Trabalhador: foram feitas mais de 64 milhões de simulações de empréstimos desde o início do programa na última sexta-feira, 21, e foram fechados 48 mil contratos nos quatro primeiros dias do programa, somando um montante de R$ 340,3 milhões em empréstimos.

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Especialistas consultados pela IstoÉ Dinheiro, no entanto, alertam para os cuidados a se ter na hora de contratar um empréstimo consignado, e recomendam uma análise minuciosa de cada caso antes de tomar esta decisão.

“Não é dinheiro fácil”, afirma a planejadora financeira Leticia Camargo, associada da Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro). “Não é para entrar em um consignado por achar que está conseguindo um dinheiro barato, porque, apesar de ser um dos créditos mais baratos do mercado, ainda é muito caro.”

Veja a seguir dicas para avaliar se o empréstimo consignado vale a pena ou não no seu caso.

Observe e compare o preço do crédito consignado

Apesar do aplicativo da Carteira de Trabalho exibir uma simulação de empréstimo com juros de 3,04% ao mês (aproximadamente 43,24% ao ano), as propostas reais podem ter taxas maiores. Propostas levantadas pela IstoÉ Dinheiro chegaram a exibir taxas de 7,62% ao mês (cerca de 144,39% ao ano).

Questionado, o MTE ainda não tem um balanço sobre a taxa de juros – seja média, mínima ou máxima – praticada nas propostas. O órgão informou, no entanto, que fatores analisados pelas instituições para precificar o crédito incluem:

  • tempo de empresa
  • saldo na conta do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço)
  • e autorização para usar a multa rescisória como garantia

Assim, antes de contratar um empréstimo da modalidade, é essencial comparar com as outras opções disponíveis no mercado. Apesar do consignado ser, em geral, o mais crédito de menor custo, caso você tenha trocado de emprego recentemente, por exemplo, pode ser que haja uma proposta mais interessante em um empréstimo pessoal sem consignado.

O Banco Central publica dados sobre o custo médio do crédito pessoal em diversos bancos. As taxas médias anuais variam de 14,47% até 988,31%. Cada pessoa terá, a partir de seu score de crédito, propostas personalizadas em cada instituição. Várias oferecem a possibilidade de simular seu empréstimo através de um aplicativo.

Avalie suas contas e o propósito do empréstimo

Para além do custo do empréstimo, é essencial observar também seu orçamento pessoal. “Nessa modalidade de empréstimo, o valor da parcela vem descontado automaticamente do salário da pessoa. O que vai cair de salário líquido na conta dela vai ser mais baixo e pode faltar dinheiro para pagar as outras contas”, alerta Carvalho.

Também é importante observar o motivo do empréstimo. Exemplos de bons usos do dinheiro citados pela planejadora financeira incluem solucionar uma emergência (como o conserto de uma geladeira ou uma doença na família) ou começar um negócio (desde que seja em um ramo seguro, no qual o empreendedor já tenha experiência).

“Agora, se a pessoa vai viajar, comprar roupa, comer no restaurante, tem que lembrar que o salário líquido vai ficar menor nos próximos meses e provavelmente vai faltar para pagar as contas”, adverte Carvalho.

Outro exemplo de bom uso do consignado, segundo a planejadora Letícia Carvalho, é como substituto para um empréstimo mais caro, como cheque especial, parcelamento do cartão de crédito ou até outro crédito pessoal. Na comparação, considere o Custo Efetivo Total, que inclui todos os juros e taxas dos empréstimos.

Riscos de endividamento

Críticos do Crédito do Trabalhador do governo apontam frequentemente o risco do programa aumentar o endividamento da população. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), cerca de 76% das famílias brasileiras já possuem dívidas.

“Uma maior facilidade para contratar crédito pode piorar essa situação”, critica o professor de MBA do Ibmec e educador financeiro João Victorino, que afirma ser “preocupante” a proposta não ser acompanhada por medidas de educação financeira.

“O Brasil ainda tem dificuldades nesse tema: baixa habilidade em operações matemáticas, pouco conhecimento sobre orçamento doméstico e falta de preocupação com a criação de uma previdência pessoal para o futuro. Sem educação financeira, o risco de mau uso do crédito aumenta consideravelmente”, conclui Victorino.

O que é crédito consignado?

O crédito consignado surgiu na década de 1950, restrito a funcionários públicos. Estes trabalhadores podiam contrair empréstimos cujas parcelas seriam descontadas diretamente de sua folha de pagamento.

A ideia é que, como as parcelas desta modalidade de empréstimo são descontadas de forma automática direto do salário, as instituições financeiras ofereçam crédito com juros mais baixos, uma vez que enfrentam riscos consideravelmente menores.

Em 2003, em seu primeiro mandato presidencial, Lula ampliou o acesso para beneficiários do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) e para trabalhadores da iniciativa privada.

O crédito consignado privado, no entanto, estava restrito às empresas que fecham convênios com bancos para oferecer a modalidade. Assim, grande parte dos trabalhadores — sobretudo funcionários de empresas pequenas ou domésticos — ainda não tinha acesso até a entrada em vigor da nova proposta do governo na sexta-feira, 21.

A estimativa do MTE é que 47 milhões de profissionais tenham acesso, incluindo os domésticos, os rurais e os empregados de microempresas.

Para ter acesso, é necessário fazer uma solicitação pelo aplicativo da Carteira de Trabalho. Os bancos enviam então suas propostas pela mesma plataforma. O aplicativo está disponível para download neste link.

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