‘Mais empatia com a água’, pede liderança indigena para a Represa Billings 

Uma trilha de 10 minutos, no silêncio da mata fechada, entre casas de taipa e pequenas pontes de madeira sobre riachos e nascentes. Esse foi o caminho percorrido pelos repórteres da Agência Mural enquanto conversavam com Gilmar Martins da Silva, 36, conhecido como Nhamandu, umas das lideranças Guarani da Grande São Paulo.

O destino final? Um braço da Represa Billings, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Local visitado diariamente pelo jovem líder da aldeia Tekoa Guyrapa-ju e pelos demais indígenas Guarani Mbya que vivem ali, divididos em 23 famílias.

Aos 20 anos, Nhamandu foi convidado para assumir a liderança do seu povo. Naquela época, recusou o convite por sentir que ainda tinha pouca experiência. Mas, em 2024, o chamado se repetiu, e há cerca de quatro meses ele é cacique da aldeia. Apesar de sua posição de liderança, as decisões são tomadas coletivamente, desde a construção de casas até a pesca e o preparo dos alimentos.

Os povos indígenas que habitam as regiões urbanas desempenham um papel importante na preservação de remanescentes de Mata Atlântica, áreas de mananciais e curso de rios, especialmente em relação à represa Billings, que em 2025 completa 100 anos.

Confira mais nas fotos sobre a relação dos Guarani com o reservatório, que banha seis municípios da Grande São Paulo: Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Santo André, São Bernardo do Campo, Diadema e São Paulo.

“A gente fez a retomada porque sabia pelos nossos antepassados, pelos nossos avós, que seus avós ocupavam este espaço”. A Aldeia Tekoa Guarapa-ju foi retomada em 2012, por indígenas Guarani que moravam na aldeia Krukutu, na outra margem, já em São Paulo. @Léu Britto/ Agência Mural

Atualmente, a terra está homologada e aguarda demarcação pelo governo federal, com base em uma portaria publicada em 2024, que reconhece sete terras indígenas do estado de São Paulo @Léu Britto/ Agência Mural

“A gente procura falar sobre o significado da Represa Billings, o porquê de ela estar ali. A gente passa esse respeito para as crianças e jovens.” @Léu Britto/ Agência Mural

Os barcos atracados nas margens são um meio de locomoção, para visitar parentes e amigos do outro lado da represa e para pescar. Os peixes são assados nas margens, em fogueiras. @Léu Britto/ Agência Mural

“A gente tem o costume de vir à noite [pescar], porque tem mais fartura. Eu não pesco, só consumo, venho pra comer”. @Léu Britto/ Agência Mural

Segundo Nhamandu, em épocas de mais poluição das águas, o gosto e a qualidade dos peixes mudam e as opções de alimentação na aldeia reduzem. @Léu Britto/ Agência Mural

“A carne parece que é boa, mas quando você come sente um gosto bem diferente, de ferrugem. [Quando isso acontece] aí a gente prefere ficar um tempo sem pescar”. @Léu Britto/ Agência Mural

Os antigos contavam que, no passado, a represa era um corredor de terra, que foi alagado pelo homem. Uma intervenção na natureza a qual aprenderam a se adaptar. @Léu Britto/ Agência Mural

Em alguns dias especiais, Nhamandu vai às margens da Billings para se concentrar, se conectar à natureza e pensar na importância das águas para seu povo. @Léu Britto/ Agência Mural

“A gente espera que nos próximos 100 anos tenha menos poluição e mais consciência das pessoas, mais empatia com a água e mais respeito. Acho que é isso é essencial”. @Léu Britto/ Agência Mural

Agência Mural

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