Irã usa houthis para minar comércio e recursos de Israel

Os Estados Unidos, sob o governo do presidente Donald Trump (Republicano), lançaram em 15 de março novos ataques aéreos aos houthis, do Iêmen, apoiados pelo Irã. As investidas são uma resposta aos ataques do grupo extremista a embarcações norte-americanas no Mar Vermelho. 

Trump responsabiliza o Irã pelos ataques dos houthis. Em publicação em seu perfil do Truth Social na 2ª feira (17.mar), o presidente disse que, a partir de agora, qualquer ação do grupo causará “consequências terríveis” ao país persa.

Desde o início da guerra civil no Iêmen, o Irã apoia os houthis com armas e tecnologias para enfrentar os rivais regionais, como Israel e Arábia Saudita. O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, nega as afirmações dos EUA e diz que o grupo iemenita “age por motivações próprias”.

No entanto, segundo o professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, mestre em ciências políticas pela Universidade de Brasília, o Irã “se vale de grupos como o Houthi e o Hezbollah” para manter influência e se estabelecer em “regiões estratégicas”. Em entrevista ao Poder360, o professor avalia que o governo iraniano deseja “demonstrar capacidade militar” sem entrar em confronto direto com Israel.

A estratégia dos houthis é atacar embarcações comerciais e enfraquecer o comércio do governo israelense, o que envolve os navios norte-americanos que enviam recursos à região.

Para o professor Bernardo Kocher, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, o Irã se vale dos houthis para “continuarem fazendo o que o Hezbollah e o Hamas já não podem mais fazer”, que é “continuar atacando Israel” pela ofensiva ao fluxo de comércio do Mar Vermelho. Tanto o grupo libanês quanto o palestino firmaram acordos de cessar-fogo com Tel Aviv.

O cientista social José Vitor Pires Tupiná, especializado em ciências políticas, acrescenta que apesar dos iranianos financiarem os houthis, o grupo iemenita também deseja atacar Israel e manter o controle na região, “não estão somente seguindo ordens [do Irã].

SEM TRÉGUA

O fato dos houthis não terem um acordo de cessar-fogo com o governo israelense permite que o Irã se beneficie dos ataques rebeldes para enfraquecer os recursos de seus rivais. 

Segundo Kocher, o grupo iemenita não tem um “compromisso com Israel de fazer um acordo”, visto que eles não estão em guerra, apenas “atacam e são atacados”

Tupiná adiciona que uma trégua com os houthis é “inviável” pelo “impulso” cultural dos iemenitas para atacar o governo israelense e simbolizar força para aliados como o Irã.

ATAQUES DOS EUA

O governo norte-americano mudou a abordagem com os houthis durante o 2º mandato de Donald Trump. Segundo o professor Antônio Jorge, os ataques do grupo iemenita incomodavam, mas “não afetavam decisivamente interesses estratégicos” dos EUA.

O governo Trump mostra-se “muito mais agressivo e instável do que os presidentes anteriores”, segundo o mestre em ciências políticas. O conflito poderia escalar caso a ofensiva norte-americana conseguisse atingir diferentes alvos ligados aos houthis.

Nesse sentido, os ataques dos EUA demonstram ser “ineficazes” pela tecnologia e armas dos houthis e o local desfavorável dos navios norte-americanos. As forças de ataque precisam “fugir da proximidade do Iêmen e ficar no norte do Mar Vermelho”, o que diminui a “eficiência e a precisão dos mísseis”, avalia o professor Bernardo Kocher.

Outra preocupação é que a ofensiva norte-americana aos houthis atrapalhe as negociações de um acordo nuclear com o Irã. Trump enviou uma carta ao líder supremo iraniano dando um prazo de 2 meses para o tratado.

Para cientista José Vitor Tupiná, as negociações só serão afetadas “se houverem ataques ao território iraniano”, visto que elas já estão “emperradas” mesmo antes do confronto com os houthis.

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