1º time indígena profissional do Brasil faz campanha por patrocínio

O Gavião Kyikatejê, fundado em 2007 no Pará, é o 1º time de futebol profissional indígena do Brasil. O projeto foi criado pelo cacique Zeca, que também é técnico e presidente do clube. A equipe do município de Bom Jesus do Tocantins surgiu após a aquisição dos direitos do Castanheira Esporte Clube, time amador da cidade vizinha Marabá. Desde então, o clube tem se destacado pela formação de atletas indígenas e quilombolas.

Além do time principal, o clube tem as categorias sub-15, sub-17 e sub-20 e o time feminino, que foi vice-campeão estadual em 2022 e alcançou a 5ª colocação em 2023. Apesar da pouca visibilidade e o preconceito, o Gavião Kyikatejê busca patrocinadores para expandir sua estrutura e garantir maior competitividade.

Uma campanha publicitária criada pelos publicitários Victor Toyofuku, Yohannã Ioshua e Henrique Louzada, com o slogan “Tempo de índio? Isso nunca existiu. Mas existe tempo indígena,” tem como objetivo atrair investidores e dar visibilidade à equipe.

Em uma conversa com o Poder360, Yohannã Ioshua, responsável pela parte criativa, explicou sobre como anda o processo para atrair novos investidores e marcas para patrocinar o Gavião Kyikatejê. Atualmente, a camisa do time estampa a frase “Sua marca aqui”, iniciativa que faz parte da campanha do clube. Além de buscar acordos de patrocínio, o Gavião está em busca de um fornecedora de materiais esportivos.

Poder360: Como é o desafio de se manter competitivo, apesar das dificuldades financeiras? 

Yohannã Ioshua – A gente sabe que o futebol, a relação de dinheiro e futebol faz toda a diferença, né? A gente vê que os times que são mais ricos conseguem contratar mais jogadores como o Flamengo, Palmeiras. E o Gavião, além da dificuldade financeira, ele tem uma ideia de privilegiar atletas indígenas. Então mesmo com todas as questões financeiras, o time ainda consegue se manter. Mas melhorando a situação financeira o Zeca pode garimpar mais atletas fora da comunidade dele, pode procurar em outros Estados, também tem toda a questão de melhorar a estrutura de treino.

Então, o objetivo é, com uma grana, trocar, por exemplo, o gramado do campo de treino deles para um gramado artificial, que é melhor.

Assim, consegue conviver melhor com as intempéries ali da região norte e tudo mais. Mas o time é 100% resistente, consegue tirar dinheiro. E acho que por lutar por uma causa tão nobre, que é a representatividade dos povos deles, acho que eles conseguem colocar um coração a mais ali na disputa.

Como o clube tem trabalhado para atrair patrocinadores e ampliar a visibilidade principalmente considerando essa identidade indígena?

A estratégia é usar primeiro o impacto de rede social, internet. Então a gente fez um filme pensado para internet e a partir desse impacto que teve, a gente conseguiu conectar com alguns influenciadores. Por exemplo, o Mauro Beting é um cara que tá muito junto do projeto do Gavião e ele consegue ali indicar, “eu conversei com fulano, conversa com ele”.

É muito uma coisa de boca a boca, sabe? De conversar direto, de mandar mensagem. Então, começa nas redes sociais, passa muito por influenciador, porque a gente acredita que tendo muita conversa, muita gente falando sobre a necessidade de ter um patrocinador, isso consiga chegar nas marcas e foi assim que a gente conseguiu impactar, por exemplo, o governador do Estado do Pará, que falou sobre o banco Pará.

Então, com muita presença na mídia, uma presença constante, influenciadores, sem grana, tudo no boca a boca, tudo na conversa. Tudo pegando aqui, mandando camisa, indo entregar camisa, indo a pé nos lugares, a gente entende que passa por isso, assim, por rede social, por influenciador, pela galera comentando nas redes sociais, compartilhando e aí uma coisa acaba puxando a outra. 

De repente você tem o Neto interessado em dar um espaço no programa, o Mauro Beting vai em um podcast do Milton Neves e leva a camisa. A camisa chega no Fred que apresenta o Globo Esporte e apresenta um programa inteiro com a camisa. Então, a coisa vai ganhando uma proporção e a partir daí a gente consegue imaginar que as marcas enxerguem potencial no Gavião e aí a partir disso decidirem patrocinar. 

O mais importante é usar a rede social para falar da causa, da luta e da organização do time que combate a expressão de time indígena para convencer as marcas de que é interessante o patrocínio, faz sentido acreditar no futuro do time.

O diferencial de ter atletas indígenas contribui de alguma forma para ajudar a atrair esses patrocinadores e marcas para o clube?

Eu acho que se é uma marca que é comprometida com questões de ISD e sustentabilidade, eu acredito que sim. Mas o que a gente tem percebido é que nem toda marca está preparada para abraçar uma luta indígena internamente. Muita marca não tem esse olhar, ainda não se atentou à importância dos povos originários.

Então, eu acho que é interessante pra marca, eu acho que toda marca que se atrelar ao Gavião tem muito a ganhar por causa dessa representatividade, da luta. É a camisa que mais carrega a história do Brasil, a gente acha que o time tem pouco, é recente, mas cara, é a história de um povo, então tem muito tempo de história do povo. Então ele carrega essa historia desde 1500.

Eu acho que é interessante, tem um ineditismo, tem uma originalidade, tem uma questão da essência brasileira de ser um território indígena então eu acho que é interessante para as marcas, acho que é um argumento forte e poderoso.

Todas essas campanhas que o clube vem fazendo para atrair novos patrocinadores têm dado resultado? tiveram muitos retornos? 

De muito retorno acho que sim, comparando com o que tinha antes, acho que tem espaço para mais. A gente teve muita visualização do vídeo, a coisa cresceu muito, a gente teve mais de 100 influenciadores que compartilharam organicamente, muita gente pedindo a camisa para comprar a camisa, porque de fato é muito bonita. Isso abriu algumas portas pra gente conversar com algumas marcas mas ainda tem espaço na camisa e na nossa disponibilidade pra fechar mais, pra conversar com mais gente, apresentar mais a proposta, sentar, discutir, falar sobre o que o Zeca pensa pro futuro do time onde esse dinheiro vai ser alocado mas a repercussão é muito boa.

O Neto trouxe muita repercussão, Fred no Globo Esporte também usando a camisa, o Mauro Beting no podcast do Milton Neves a repercussão foi muito positiva.

95% positiva e 5% daquele hate que tem, aquelas piadas de sempre, que fala coisa sem ter conhecimento nenhum. É um absurdo que por falta de respeito e do desconhecimento pelos povos indígenas, as pessoas saem espalhando inverdades por aí, atacando o time.

Falando um pouco sobre o futebol feminino, existem planos para o futuro para conseguir mais visibilidade e buscar patrocinadores específicos para a categoria?

Nós estamos mais focados na instituição Gavião como um todo por enquanto, talvez depois quando a gente conseguir consolidar isso a gente consiga abrir um caminho focado no time feminino. 

Já tem muita marca que é muito envolvida com o futebol feminino igual o Guaraná, Natura que faz muita coisa de futebol feminino, mas por enquanto a gente está focado no todo, preparar o terreno, a estrutura, melhorar as condições de treino para dar um mínimo para todo mundo e depois a gente conseguir focar mais em uma categoria ou outra.

Completando a questão do Zeca, o que encantou muita gente no projeto do Gavião, é isso de não ser resultado no curto prazo. Nós fazermos um projeto agora que vai entrar uma grana pro time e aí vai ser investido ali no profissional, vai fazer um barulhão. 

O dinheiro ele é invertido muito em estrutura, na base, na atração de talento, em manter a galera ali nos alojamentos, para ter uma base sólida, e aí sim você começar a ver os resultados no profissional, até um dia, sei lá, você ver um indígena gavião na seleção brasileira ou um time gavião disputando uma série do campeonato brasileiro, A, B, C, D, tanto faz uma Copa Verde, sabe, chegando nisso, mas primeiro a gente tem que construir a base, a estrutura tudo ali que um time precisa pra isso começar a gerar repercussão no time de cima, o time de cima é a ponta do iceberg, tem toda uma estrutura embaixo que precisa estar firme pra o time profissional, essa linha de frente, conseguir ter mais atleta, melhor rendimento, vindo de baixo.

Falando um pouco sobre curto a médio prazo, quais são os objetivos, tanto dentro de campo, quanto na parte de marketing, arrecadação de recursos, talvez atraindo investidores?

Cara, acho que esportivamente, curto prazo, é subir de divisão. É o objetivo de curto prazo, acho que é o mais acessível hoje. E sobre grana, futuro, acho que a gente precisa muito ter pé no chão para construir a estruturinha agora e depois imaginar como é que vai lidar com chegada de investidor, com chegada de mais marcas.

A primeira coisa que a gente faz, que é conversar com as marcas, e assim, não pode ser um patrocínio só pontual, assim, de 2 meses, 3 meses. A gente imagina nas coisas da presença das marcas por um ano, dois anos para o Zeca conseguir se planejar, assim, sabendo que vai entrar uma grana em 2026, ele consegue fazer um planejamento mais estratégico para 2026.

Então, a gente controla isso, traz essa visão pras marcas e acho que, pra futuro, como a gente tem enxergado aqui agora, são muitas possibilidades positivas. Acho que tem muita marca se interessando. A gente sabe que as coisas demoram a acontecer, tudo que envolve grana, tudo que envolve marca, tem uma burocracia, tem uma questão de onde sai o dinheiro, pra onde vai, como é que é esse processo, mas acho que as perspectivas são muito boas, assim, pro futuro, se a gente fosse basear no que tá rolando agora, em toda essa onda. A gente quer transformar essa possível primeira onda num mar, assim. Não é só uma onda, é um oceano inteiro de possibilidades.

Tem muita marca que já está um pouquinho mais engatilhada para patrocinar o clube, algo um pouquinho mais concretizado que talvez dê para dar uma palhinha sobre ou algo do tipo?

Tem o Banco Pará, via o governo do Estado, que anunciou, inclusive ele foi impactado por tudo que a gente fez, pelo filme, pelo que passou no Neto, ele mesmo falou que viu nas redes sociais toda essa movimentação.

E o Banco Pará internamente decidiu investir no time é o que tá mais certo e aí tem muitas outras conversas, tem mais dois pra entrar, mas ainda não dá pra abrir o jogo Mas tem mais dois pra entrar que tão ali no nos 40 no finalzinho ali, tão na reta final.

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