Opinião: “Lula perde popularidade até no PT”

Até recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era considerado o único nome capaz de unir o PT em torno de uma causa. É bem verdade que, em alguns momentos do passado, ele sofreu algumas manifestações de rebeldia entre seus filiados, partindo de Rui Falcão e de Eduardo Suplicy. Mas, desde que chegou pela primeira vez ao Planalto, em 2003, Lula nunca havia recebido uma contestação tão explícita contra a sua vontade.

Nesta semana, o presidente participou de um jantar na casa da atual ministra Gleisi Hoffman, para falar da sucessão à presidência do Partido dos Trabalhadores. Durante o encontro, foi oficialmente informado de que a corrente petista “Construindo um Novo Brasil”, mais conhecida como CNB, não queria que o ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, sucedesse Gleisi no comando da legenda – exatamente como planeja Lula. Mas a rejeição a Edinho também está presente em outros grupos petistas, como a Democracia Socialista (DS).

Essa desunião pode ser vista como uma consequência do esvaziamento da liderança de Lula no partido. E isso tem muito a ver com a queda paulatina e firma dos índices de popularidade do presidente. Se Lula estivesse popular como em seus dois primeiros mandatos, todos acatariam suas decisões sobre quem deveria presidir a sigla.

Mas Lula passa por um momento difícil, com percentuais de desaprovação superando os de aprovação. Diante dessa fragilidade, os insatisfeitos acabam saindo da toca e mostrando as garras.

Tal desobediência, porém, não tem a ver apenas com o resultado das pesquisas de popularidade. Essas duas correntes não engolem a gestão de Fernando Haddad junto ao ministério da Fazenda, que tenta manter o governo nos limites regulamentares da responsabilidade fiscal, apesar das resistências de Lula.

Ao contestar o candidato de Lula, que é também apoiado por Haddad, tanto CNB como DS estão passando uma mensagem subliminar à presidência da República – a de que o governo deveria adotar uma tonalidade mais esquerdista.

Imaginemos o alvoroço que poderia ocorrer no mercado se CNB e DS obtivessem o que desejam. Para a chamada Faria Lima, o governo Lula já é mais esquerdista que o desejado. Mas, para os petistas radicais, trata-se de uma gestão moderada, mais próxima do Centrão do que dos deputados que pregam o socialismo.

Muitos analistas políticos acham que o destino do PT está atrelado à direção que o Planalto adotará daqui para frente. Isso, contudo, não é necessariamente verdadeiro, pois Lula costuma impor as suas vontades aos correligionários, mesmo quando não consegue atingir seus objetivos logo de cara. Talvez esses petistas mais radicais possam ganhar mais tração no mapa de poder de Brasília se fossem diretamente à fonte na qual a verdadeira autoridade desta administração parece emanar: a primeira-dama Janja da Silva, que aparentemente abraça causas semelhantes às da CNB e da DS.

O post Opinião: “Lula perde popularidade até no PT” apareceu primeiro em BM&C NEWS.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.