USaid enviou US$ 83 mi para o Brasil no 1º mandato de Trump

A USaid (Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA), principal órgão público de ajuda humanitária dos Estados Unidos, repassou ao Brasil US$ 82.864.757,00 (aproximadamente R$ 414 milhões) no 1º mandato do republicano Donald Trump (2017-2020). Cinco anos depois, no início do seu 2º mandato, em 26 de janeiro de 2025, Trump congelaria o envio da ajuda externa e encerraria as atividades da agência.

O valor sob a 1ª gestão Trump é US$ 28,8 milhões inferior ao enviado pelo governo do democrata Joe Biden (2021-2024), que repassou US$ 111.709.074,00 (aproximadamente R$ 559 milhões) ao Brasil. A maior parte da verba foi destinada a projetos de contenção da pandemia de covid-19, iniciada em março de 2020.

Os dados preliminares são da ForeignAssistance.gov, plataforma oficial do governo norte-americano, e contemplam o período de 1º de outubro de 2016 a 30 de setembro de 2024. O levantamento não incluiu repasses administrativos. As áreas analisadas foram: meio ambiente, ajuda humanitária, causa indígena, infraestrutura e saúde. 

SAÚDE

Durante todo o mandato de Biden, a USaid repassou US$ 33.776.671,00 a projetos de saúde no país. Foram quase US$ 20 milhões a mais que o governo Trump, que desembolsou US$ 13.986.811,00 durante a sua 1ª passagem pela Casa Branca. Ao todo, foram US$ 47.763.482,00 voltados à saúde no Brasil por meio de projetos financiados pela USaid de 2017 a 2024.

No ano passado, a agência norte-americana repassou apenas US$ 650.759,00, o que pode indicar que a área deixou de estar entre as prioridades com o arrefecimento da pandemia.  

AJUDA HUMANITÁRIA

A área de ajuda humanitária foi a 2ª que mais recebeu repasses, sendo a Adra (Agência Adventista de Desenvolvimento e Assistência Internacional) a principal beneficiada. O principal foco da Adra no período foi lidar com a crise migratória de venezuelanos para o Brasil.

Em 2021, a gestão de Biden repassou US$ 11.217.812,00 para projetos de assistência social. Ao todo, foram US$ 34.042.066,00 destinados à área durante o governo do democrata. Com Trump, a USaid enviou US$ 13.358.430,00 a iniciativas do tipo em território brasileiro.

MEIO AMBIENTE

Na Casa Branca de Trump, a maioria dos projetos que contaram com ajuda financeira era da área de preservação do meio ambiente. De 2017 a 2020, o governo norte-americano repassou US$ 44.289.620,00 para projetos voltados ao tema enquanto a gestão democrata desembolsou US$ 25.235.995,00. Somando Trump e Biden, a área ambiental foi a área que mais recebeu financiamento no nos últimos oito anos: US$ 69.525.615,00

Entre os parceiros executores –ONGs, empresas, institutos ou agências governamentais que receberam o montante da USaid para executar as demandas estabelecidas no contrato de assistência–, os que mais receberam os repasses durante o 1º mandato de Trump foram a Natura, a Sitawi Finanças do Bem e o Cgiar (Grupo Consultivo para Pesquisa Agrícola Internacional), que recebe apoio de outras organizações, como o Banco Mundial e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

O Departamento de Agricultura dos EUA foi o principal responsável por executar os projetos para o meio ambiente tanto na 1ª gestão de Trump quanto no governo Biden.

ENTENDA: TRUMP X USAID

Responsável por 40% de toda a ajuda humanitária do mundo, a USaid ganhou destaque depois que Donald Trump  interrompeu o envio da ajuda externa em 26 de janeiro. Nas semanas seguintes, a gestão do republicano fechou os escritórios da agência e tirou seu site do ar.

A justificativa do líder da Casa Branca foi a de que “a indústria de ajuda externa e a burocracia dos Estados Unidos não estão alinhadas com os interesses norte-americanos e, em muitos casos, são antitéticas aos valores norte-americanos”. Disse também que órgãos como a USaid “servem para desestabilizar a paz mundial”.

O bilionário Elon Musk, chefe do Doge (Departamento de Eficiência Governamental), tem endossado o discurso de Trump e feito grande campanha contrária à USaid em sua rede social X. 

Já escreveu que a agência está envolvida “em trabalhos sujos da CIA” e na “censura da internet”. Afirmou também, em 3 de fevereiro, que pretende fechar todos os escritórios do órgão de ajuda humanitária. “Não se trata de uma maçã com verme dentro, o que temos é simplesmente um ninho de vermes”, disse.

O atrito do republicano com a agência de desenvolvimento internacional não é recente. O presidente faz críticas à USaid e propõe cortes no orçamento desde a sua 1ª passagem pela Casa Branca. Em 2017, poucos meses depois de assumir o Executivo norte-americano, o governo republicano sugeriu reduzir o orçamento da agência em cerca de 30%, a fim de focar seus investimentos em áreas militares em detrimento de outros projetos. 

O secretário de Estado na época, Rex Tillerson, chegou a enviar uma carta interna aos funcionários do departamento sobre o assunto. Segundo ele, o pedido de cortes no orçamento seria “um reconhecimento de que as necessidades de desenvolvimento são um desafio global a ser enfrentado não apenas por contribuições dos Estados Unidos, mas por meio de maior parceria e contribuições de nossos aliados e outros”.

Donald Trump também fez críticas diretas à agência e aos repasses dos EUA a outros países durante seu 1º mandato. “Damos dinheiro a outros países, mas não damos dinheiro ao nosso próprio país, que é outra coisa da qual tenho me queixado”, disse Trump em 2019. 

Trump também se referiu à agência como “lunáticos da esquerda radical”, mostrando seu descontentamento com a USaid durante sua 1ª gestão. “O conceito é bom, mas é tudo uma questão de pessoas”, disse o republicano à época. 

O QUE É A USAID

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USaid) foi criada em 1961 pelo então presidente John Kennedy. Por decreto, ele unificou diversos programas assistenciais dos EUA. Até a chegada do republicano Donald Trump à Casa Branca em 20 de janeiro de 2025, atuava em mais de 100 países.

Nos anos 1960 e 1970, a agência era vista em países do Terceiro Mundo, como o Brasil, como um instrumento de interferência norte-americana em várias áreas, sobretudo para promover os valores políticos dos EUA. Nos movimentos de esquerda brasileiros, a USaid (cujo nome era pronunciado “usáid” por aqui) era considerada uma espécie de besta-fera do imperialismo.

A partir dos anos 1980 e, mais recentemente, nos anos 2000, a USaid passou a atuar em pautas mais ligadas a direitos humanos, meio ambiente e a favor de minorias. Houve uma aproximação de temas identitários e assim a imagem da agência mudou, passando a ser respeitada pelas esquerdas em países como o Brasil –e pelos militantes do Partido Democrata nos EUA.

O nome em inglês da agência é “United States Agency for International Development”. Os norte-americanos, em geral, soletram as duas primeiras letras “U” e “S” e, depois, falam o acrônimo final como se fosse uma palavra “aid” (cujo significado é “ajuda”). O slogan da agência, logo abaixo da sigla, é “from the American People”. É que US e aid podem ser traduzidos como “ajuda dos Estados Unidos” –daí o complemento “do povo norte-americano”.

O Poder360 adota em seus textos a grafia da forma como o acrônimo é mais comumente falado nos EUA: USaid.


Leia mais sobre a USaid durante a atual gestão Trump: 

  • USaid repassou mais de US$ 20 mi para projetos no Brasil em 2024;
  • USaid planejava investir US$ 268 milhões em jornalismo em 2025;
  • Trump coloca todos funcionários da USaid em licença
  • US$ 1,64 milhão da Usaid foram para ações de diversidade, diz Casa Branca;
  • Bolsonaro era visto como “Trump tropical” pela USaid
  • Cortes na USaid preocupam países africanos;
  • Site da USaid volta ao ar e confirma encerramento da agência.

Esta reportagem foi coproduzida pela trainee do Poder360 Mylla Marcolino. 

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