Mandante da morte de Gritzbach ostentava quadro com réplica de fuzil dourado em casa; traficante tem ligação com PCC e CV


Emilio Castilho é procurado pelo assassinato de Vinicius Gritzbach em novembro de 2024 em aeroporto em Guarulhos, Grande SP. Além dele, polícia tenta prender outro mandante e um ‘olheiro’ do grupo, que estão foragidos. Motivo do crime seria vingança, dívida e delação. ‘Cigarreira’ (à esquerda) tinha placa com seu apelido e réplica de fuzil dourado (ao centro). Ele é apontado como mandante da execução de Gritzbach (à direita)
Reprodução/Divulgação
Emilio Carlos Gongorra Castilho, apontado pela polícia como o principal mandante do assassinato de Vinicius Gritzbach, ostentava um quadro com a réplica de um fuzil dourado na parede de casa. A arma brilhante é falsa e estava emoldurada, presa a um fundo preto, sobrepondo a logomarca da grife francesa Louis Vuitton, famosa pelas bolsas, malas e artigos de luxo.
Além desse objeto, a Polícia Civil de São Paulo apreendeu no imóvel uma placa menor, onde pode-se ler “Cigarreira”, apelido de Emílio. Ele aparece entre um desenho de cigarro aceso com fumaça e a inscrição “MarbaBoteco”, numa alusão à marca de cigarros americana Marlboro.
As apreensões desses e outros itens foram feitas durante operação na quinta-feira (13) pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Os policiais também tentaram cumprir um mandado de prisão contra Emilio, mas ele não estava na residência. De acordo com a investigação, “o alvo” fugiu. Atualmente está sendo procurado como foragido pelas autoridades.
A Justiça decretou a prisão preventiva de “Cigarreira” a pedido da polícia e do Ministério Público (MP). Segundo a investigação do DHPP e da Promotoria, Emilio contratou policiais para executarem a tiros Gritzbach.
A vítima era um milionário empresário do ramo imobiliário que lavava dinheiro do tráfico de drogas para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Antes de ser morto, Gritzbach havia procurado a Justiça para denunciar traficantes, entre eles “Cigarreira”, e policiais por corrupção. Ele dizia que pessoas ligadas à facção tinham oferecido R$ 3 milhões para agentes da polícia o matarem.
O empresário foi assassinado a tiros no dia 8 de novembro de 2024, quando voltava de viagem. Ele havia acabado de desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Foi atingido por dez disparos de fuzis disparados por dois homens encapuzados. Eles fugiram depois num carro conduzido por um comparsa.
Um motorista de aplicativo que estava dentro do aeroporto foi atingido por acaso por uma bala perdida e também morreu. Câmeras de segurança gravaram o crime (veja vídeo nesta reportagem).
Réplica de arma dourada de ‘Cigarreira’
Reprodução
Quem é Cigarreira
Polícia de SP diz que assassinato de Vinicius Gritzbach está solucionado
De acordo com a força-tarefa criada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) para investigar os homicídios, “Cigarreira” é um traficante de drogas com relações comerciais com duas facções criminosas: o Primeiro Comando da Capital, em São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro.
Entre 2008 e 2010, quando PCC e CV mantinha relações criminosas de comércio, “Cigarreira” negociava drogas e até armas entre as duas facções. Em 2017 o acordo entre eles terminou.
“Cigarreira” chegou a ser preso em 2008 pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Fronteira, por suspeita de fornecer drogas para os complexos do Alemão e da Penha, no Rio, ambos controlados pelo Comando Vermelho.
Em 2014, “Cigarreira” e outros investigados por envolvimento com o PCC foram condenados pela Justiça a oito anos de prisão cada um por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Atualmente, ele estava em liberdade.
Vingança, dívida e traição
Policial carrega quadro com réplica de fuzil dourado na residência de ‘Cigarreiro’
Reprodução
Ainda segundo a investigação, “Cigarreira” e seu amigo, Diego do Amaral Coelho, o “Didi”, são os mandantes da execução de Gritzbach. As autoridades dizem que os dois decidiram matar o empresário por: vingança, dívida e traição.
Segundo os investigadores, “Cigarreira” e “Didi” desconfiavam que Gritzbach havia contratado um matador de aluguel para assassinar Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e seu motorista, Antonio Corona Neto, o “Sem Sangue”. Os dois eram integrantes do PCC e foram mortos a tiros em 2021 porque Anselmo estaria cobrando R$ 100 milhões que Gritzbach estaria devendo a ele.
O empresário foi levado a um “tribunal do crime”, nome dado a reunião de criminosos para “julgar” divergências internas da facção. Gristzbach negou a acusação e foi inocentado pelos demais parceiros do Primeiro Comando da Capital.
A própria Justiça havia tornado o empresário réu como mandante dos homicídios de “Cara Preta” e “Sem Sangue”. Gritzbach respondia ao processo em liberdade. Isso levou “Cigarreira” e “Didi” ao plano de matarem o desafeto.
Além disso, o fato de o empresário ter delatado traficantes num esquema criminoso de lavagem de dinheiro do tráfico para o PCC também contrariou “Cigarreira” e “Didi”.
Caso está esclarecido
A polícia de São Paulo identificou o suspeito de mandar matar Vinicius Gritzbach, delator do PCC
De acordo com a delegada Ivalda Aleixo, diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa, a decisão de executarem Gritzbach foi unilateral de dois criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital, mas não foi uma ordem direta e conjunta do PCC.
“Provavelmente, ‘Cigarreira’ e ‘Didi” fizeram isso sem conhecimento e anuência da facção”, falou Ivalda em entrevista coletiva à imprensa, na quinta, na sede do DHPP.
“O “Cigarreira” é o principal articulador por vingança da morte do amigo Anselmo [o “Cara Preta”], que o auxiliou a crescer no mundo do crime. E também por por ter perdido dinheiro e imóveis para Vinícius, que também poderia citar seu nome em possível delação que podia fazer”, disse o delegado Rogério Barbosa, do DHPP.
Na opinião do delegado Osvaldo Nico Gonçalves, secretário executivo da Secretaria da Segurança Pública (SSP), o caso Gritzbach está esclarecido com a identificação dos dois mandantes e dos executores do crime.
“Dentro de 10 a 15 dias o inquérito será concluído e relatado à Justiça com os devidos indiciamentos dos investigados pelos homicídios”, falou Nico.
Mandantes e executores
Infográfico mostra áreas do corpo de Antônio Vinicius Gritzbach atingidas por tiros
g1
“Cigarreira” costuma usar nomes e documentos falsos para se esconder. Além dele, “Didi” teve a prisão decretada pela Justiça e está sendo procurado pelas autoridades.
Kauê do Amaral Coelho, sobrinho de “Didi”, também está foragido e pode ser preso se for encontrado. Ele é apontado como o “olheiro” do grupo criminoso que decidiu matar o empresário. Sua missão foi a de seguir Gritzbach e avisar os comparsas da chegada dele no aeroporto para que os atiradores o matassem. A SSP está oferecendo uma recompensa de R$ 50 mil para quem tiver informações que levem ao paradeiro e à prisão de Kauê.
Segundo a investigação, “Cigarreira” e “Kauê” podem estar escondidos no Complexo da Penha, na capital fluminense. “Didi” teria fugido para a Bolívia. O DHPP analisa a possibilidade de vir a pedir autorizações judiciais e conversar com as polícias carioca e fluminense para tentar capturar os foragidos.
De acordo com a polícia, os homens que atiraram e mataram Gritzbach são dois policiais militares: o cabo Denis Antonio Martins e o soldado Ruan Silva Rodrigues. Fernando Genauro da Silva, tenente da Polícia Militar (PM) é apontado como o motorista do carro que ajudou os executores a fugir. Os três agentes da PM estão presos pelos homicídios no aeroporto.
Além dos seis investigados diretamente no plano da execução de Gritzbach, a força-tarefa prendeu 17 PMs que faziam a escolta particular do empresário. A corporação proíbe seus agentes de fazerem segurança privada, ainda mais para alguém ligado ao PCC. Dez dos policiais militares foram indiciados pela Corregedoria da PM por suspeita de envolvimento com o crime organizado.
Policiais presos
Cinco policiais indiciados por extorsão de Gritzbach
Ainda nos desdobramentos do caso Gritzbach, outros cinco policiais civis delatados pelo empresário por corrupção foram presos pela Polícia Federal. São eles: o delegado Fabio Baena e os investigadores Eduardo Monteiro; Marcelo Ruggieri, o “Xará”; Marcelo Souza, o “Bombom”; e Rogério Felício, o “Rogerinho”. A PF indiciou todos por extorsão.
O empresário havia dito que os policiais tinham cobrado R$ 40 milhões dele para não incriminá-lo pelos assassinatos de “Cara Preta” e “Sem Sangue”. E que depois, mesmo se ele tivesse pago R$ 60 milhões, os agentes o responsabilizariam pelo crime porque “Cigarreiro” o acusou pelos homicídios à polícia.
Além deles, foram presos pelas autoridades o advogado Ahmed Saleh, o “Mudi”, e os empresários Robinson Moura, o “Molly”, e Ademir Pereira de Andrade. A namorada de Kauê, a modelo Jacqueline Moreira, também foi detida. Eles são investigados por suspeita de organização criminosa no caso Gritzbach porque teriam colaborado com os mandantes e executores do crime.
No total, ao menos 26 pessoas já foram presas durantes as investigação do caso Gritzbach, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
O g1 tenta localizar as defesas dos citados para comentarem o assunto.
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