Clinica renal em Roraima suspende atendimento por atraso no salário de 70 trabalhadores e pacientes falam em descaso


Trabalhadores deveriam ter recebido no dia 5 de fevereiro, o que não ocorreu. Sesau informou que pacientes da clinica podem ser atendidos no Hospital Geral de Roraima. Pacientes falam em descaso após suspensão de atendimento em clinica Renal de Roraima
Arquivo Pessoal/Dayane da Costa e Caíque Rodrigues/g1 RR
“É constrangedor, humilhante para os pacientes”. É assim que a aposentada Lucilene da Costa, de 60 anos, descreve a situação após o fechamento da clínica Renal de Roraima nesta sexta-feira (14). Com os dois rins comprometidos, ela é um dos pacientes afetados pela suspensão dos atendimentos por tempo indeterminado, causada pela falta de pagamento a 70 trabalhadores terceirizados que atuam na unidade.
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Os pacientes da clinica se depararam nesta manhã com um aviso na porta informando a suspensão. A situação ocorre mesmo diante da Justiça do Trabalho determinar que a empresa terceirizada fizesse o pagamento atrasado.
“A Clínica Renal de Roraima vem por meio deste informar a SUSPENSÃO DOS SERVIÇOS PRESTADOS, conforme previsão legal por prazo indeterminado, a partir do dia 14 de fevereiro de 2025”, consta no aviso preso à porta.
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Comunicado na porta da clinica Renal informando a suspensão de atendimento
Caíque Rodrigues/g1 RR
Na última quarta-feira (12) o Sindicato de Empregados em Estabelecimentos Privados de Serviço de Saúde de Roraima (Simesp-RR) denunciou a situação. Entre os trabalhadores estão os profissionais que atuam na enfermagem, limpeza, manutenção e setores administrativos da clínica. Segundo o Sindicato, ao menos 370 pacientes dependem dos serviços desses trabalhadores, principalmente com hemodiálise.
Lucilene é um deles. Quando viu o aviso na porta, ela e a filha, a confeiteira Dayane da Costa, de 40 anos, que a acompanha, foram até o Hospital Geral de Roraima (HGR). Lá, elas disseram que a equipe médica não quis fazer a hemodiálise em Lucilene pois ela “aparentava estar sadia”.
A aposentada precisa fazer o procedimento três vezes por semana e vive com um cateter no pescoço. Ela chegou ao HGR às 4h da manhã.
“O HGR estava lotado de gente da clinica Renal. Quando minha mãe passou pela triagem, o médico examinou e disse que ela não precisava de hemodiálise hoje, que ela estava bem e só deveria fazer se passasse mal. Disseram que só atenderiam casos de emergência”, disse a Dayane ao g1.
Dayane da Costa e a mãe, Lucilene, esperam atendimento para fazer hemodiálise após suspensão da clinica Renal
Arquivo Pessoal/Dayane Da Costa
A Clínica Renal presta serviços ao governo do estado por meio de contrato que atende pacientes encaminhados pela Secretaria estadual de Saúde (Sesau).
Por meio de nota, a Sesau informou que os pacientes renais que buscam atendimento no HGR estão sendo atendidos no Pronto Socorro Airton Rocha, que organizou um fluxo para atendimento da demanda extra.
“No Pronto Socorro Airton Rocha, o paciente preenche a ficha, passa por avaliação médica e, se houver necessidade urgente, um nefrologista é acionado para realizar a diálise. Já nos casos não emergenciais, o paciente recebe as devidas orientações médicas e é liberado”, destacou na nota.
Sobre o pagamento de salários, a Sesau esclareceu que essa é uma “responsabilidade da empresa contratada, que deve cumprir os prazos para emissão das notas fiscais, considerando os trâmites legais necessários para o pagamento”. Disse ainda que a administração pública tem até 30 dias, a partir do protocolo das notas fiscais, para efetuar o pagamento.
“As notas fiscais referentes a dezembro de 2024 foram emitidas pela empresa no dia 10 de fevereiro de 2025 e protocoladas na Sesau no dia 11 de fevereiro. Já as notas referentes a janeiro de 2025 foram emitidas e protocoladas no dia 11 de fevereiro”.
Pacientes relatam descaso
Fachada da clinica Renal em Roraima
Caíque Rodrigues/g1 RR
Lucilene e a filha desistiram de esperar no HGR e foram até o Hospital das Clínicas Dr. Wilson Franco Rodrigues, no bairro Silvio Botelho, zona Oeste de Boa Vista, em busca de atendimento. Elas foram atendidas por volta de 12h30.
“Minha mãe não urina mais. São 10 anos de hemodiálise, e todo o líquido que ela ingere fica retido, então ela incha. Por isso viemos para cá. Fizemos a ficha novamente, e graças a Deus estão nos atendendo bem. Ela é a próxima a entrar”, relata a filha que parou de trabalhar para apenas cuidar da mãe.
Lucilene falou também em desinformação. Ela conta que no HGR havia desencontros de informações entre a equipe médica.
“Eu estou com um cateter no pescoço. Estou fazendo hemodiálise pelo cateter e deveria ser considerada emergência, mas o médico disse que eu estava bem e se recusou a me atender. Um descaso”, disse a aposentada.
Marlon Garcia, de 38 anos, esperava atendimento renal no Hospital Geral de Roraima (HGR)
Caíque Rodrigues/g1 RR
No HGR, o migrante Marlon Garcia, de 38 anos, esperava atendimento. Natural de Ciudad Guayana, na Venezuela, ele é paciente da clinica Renal há 2 anos, desde que chegou em Roraima. Os rins dele estão comprometidos e por isso ele não consegue trabalho.
“Hoje era meu dia de hemodiálise, e não sei se vão me atender aqui. Estão dizendo que talvez não consigam porque há muita gente. Minha irmã me mandou para casa para esperar para ver se a clínica abre ou se conseguem me dialisar aqui”, disse Marlon ao g1.
Assim como Lucilene, ele também foi informado de que apenas os casos mais graves seriam atendidos no HGR. Ele esperava no hospital desde 5h da manhã.
“Eu estava bem, era bem atendido lá na clinica. É triste, não sei como vai ser”, relatou.
Denuncia do sindicato
No último domingo (9), a 3ª Vara da Justiça do Trabalho em Boa Vista, à pedido do Sindicato, deu 48 horas para que a clínica pagasse o salário de janeiro sob risco de multa diária de R$ 1 mil por funcionário e bloqueio das contas da empresa. No entanto, os funcionários seguem sem receber. A decisão foi do juiz Gleydson Ney Silva Rocha.
A presidente do Sindicato, Joana Gouveia, disse que desde outubro de 2023 os trabalhadores reclamam de recorrentes atrasos no salário. Por isso, a organização decidiu recorrer à Justiça do Trabalho.
“A gente entende que é uma falta de respeito com os colaboradores que saem de suas casas para prestar assistência e cuidar dos pacientes e o mínimo que eles deveriam ter após os 30 dias era seu pagamento”, afirmou Joana.
A presidente do SIMESP-RR fala que 70 funcionários estão sendo impactados pelo atraso de salário, que acontece de forma constante desde outubro de 2023
JG Grana/g1 RR
Em julho de 2023 a Clínica Renal paralisou os serviços alegando que não tinha condições financeiras para realizar suas atividades, pois o governo devia mais de R$ 8 milhões para a clínica. No entanto, à época, a Justiça obrigou o estado a quitar os débitos.
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