Quem é o ‘Mago do Leite’, químico preso em fábrica de laticínios que usava soda cáustica no RS

A 12ª fase da operação “Leite Compen$ado” do MPRS (Ministério Público do Rio Grande do Sul), deflagrada nesta quarta-feira (11), prendeu seis pessoas sob suspeita de adulterar laticínios com soda cáustica. Entre eles, está o engenheiro químico conhecido como “Mago do Leite”.

Engenheiro químico conhecido como "Mago do Leite"

O químico preso por adulterar os produtos é conhecido como “Mago do Leite” ou “Alquimista” – Foto: Divulgação/Facebook/ND

O alvo da operação foi a fábrica Dielat Laticínios, em Taquara, no Rio Grande do Sul. A empresa produz derivados lácteos, como leite UHT, composto, leite em pó, soro, entre outros.

As Promotorias de Justiça identificaram produtos com adição de soda cáustica e água oxigenada, que são nocivas à saúde. Ainda foram detectados foram “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens.

Operação Leite Compen$ado em fábrica do Rio Grande do Sul

Agentes identificaram leite com soda cáustica, água oxigenada e “pelos indefinidos” – Foto: MPRS/Divulgação/ND

Segundo o MPRS, os derivados de leite são distribuídos para o Brasil e para a Venezuela. As marcas comercializadas pela Dielat no Brasil incluem Mega Lac, Mega Milk, Tentação e Cootall, enquanto na Venezuela os produtos levam o nome de Tigo.

Ao todo, 110 agentes cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em empresas e residências de Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na capital paulista.

Além do engenheiro químico apelidado de “Mago do Leite” ou “Alquimista”, a operação prendeu o sócio-proprietário da indústria em São Paulo, o diretor administrativo da empresa, dois gerentes e uma funcionária.

Após 10 anos, ‘Mago do Leite’ é preso pela segunda vez na operação Leite Compen$ado

Engenheiro Químico Sérgio Alberto Seewald

O engenheiro Sérgio Alberto Seewald estava impedido pela Justiça de atuar no setor de laticínios – Foto: Divulgação/Facebook/ND

Sérgio Alberto Seewald, engenheiro químico apresentado pelo MPRS como “Mago do Leite” e “Alquimista” , foi alvo pela segunda vez da mesma operação, que começou em maio de 2013.

Ele foi preso pela primeira vez na quinta fase da “Leite Compen$ado”, em 2014. A operação descobriu sua participação na adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada nos produtos de uma indústria em Imigrante, no Vale do Taquari.

Segundo o MPRS, o “Mago do Leite” foi absolvido de uma condenação de 2005 por fato semelhante. Uma medida cautelar foi imposta e ele estava impedido pela Justiça de trabalhar em laticínios.

Mago do Leite dirige uma motocicleta

O “Mago do Leite” adicionava soda cáustica em quantidade que não era detectada nos exames – Foto: Divulgação/Facebook/ND

O promotor de Justiça Mauro Rockenbach explica que Sérgio Alberto Seewald deveria estar usando tornozeleira eletrônica enquanto aguardava o desfecho do processo judicial da quinta fase da operação.

“Com a denúncia de 2024 se confirmou um novo risco e, para nossa surpresa, lá estava o Alquimista – ou Mago do Leite. Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da Leite 5”, aponta.

“Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, destaca Rockenbach.

Como o “Mago do Leite” adulterava os produtos lácteos?

Operação Leite Compen$ado no Rio Grande do Sul

A fábrica Dielat Laticínios em Taquara (RS) produzia leite e derivados utilizando soda cáustica e água oxigenada – Foto: MPRS/Reprodução/ND

O promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho explica que a soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez. O produto não é detectado nas análises, visto que volatiza ou desaparece rapidamente.

“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas”, declara o promotor.

De acordo com o MPRS, o “Mago do Leite” teria sido contratado pela Dielat Laticínios para assessorar na produção. Os acusados utilizavam códigos como “vitamina” e “receita” para despistar as tentativas de investigação.

Fábrica de leite

A empresa investigada foi selecionada em um edital para distribuir derivados de leite em escolas de SP – Foto: MPRS/Reprodução/ND

Eles chegaram a reprocessar o composto lácteo vencido para reutilizá-lo. A água oxigenada ou peróxido de hidrogênio serve para matar micro-organismos e recuperar o produto em deterioração.

“Isso sem falar da soda cáustica, que pode conter metais pesados, alguns, inclusive, cancerígenos”, afirma o promotor de Justiça. “Vale lembrar que as irregularidades não foram detectadas apenas no leite UHT, mas no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite”.

A fábrica participa de várias licitações para fornecimento de laticínios em diversos locais do Brasil. Recentemente, venceu um certame para distribuir os derivados de leite para escolas de uma cidade em São Paulo.

O que dizem os envolvidos?

Em nota, o advogado do escritório responsável pelo caso, Dr. Nicholas Horn, comunicou que “Sérgio Alberto Seewald não possui relação formal ou informal com a empresa Dielat”.

“Trata-se, pois, de uma criação de fatos por parte do Ministério Público, que não enseja a verdade.Todas as medidas necessárias para a sua soltura estão sendo tomadas, desde já”, disse a defesa do “Mago do Leite”.

A reportagem também tentou contato com a Dielat Indústria e Comércio de Laticínios por e-mail, mas não obteve resposta até o momento desta publicação. O espaço segue aberto.

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